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Não pratique suicídio investindo em tecnologia

Paul Strassmann é um ilustre académico norte-americano, com alguma investigação de campo feita em Portugal (mas confidêncial) sobre o chamado PARADOXO DA PRODUTIVIDADE. Trocado por miúdos: apesar do sorvedouro de gastos em tecnologias de informação, o crescimento da produtividade desses investimentos NÃO É VISÍVEL. Porquê? Porque, salvo raras e honrosas excepções, você investe ERRADAMENTE neste campo. Deixa-se tentar por DEZ ASSASSINOS silenciosos da produtividade e comete DEZ ERROS clássicos.

Texto e entrevista conduzida por Jorge Nascimento Rodrigues e ilustração de Paulo Buchinho

Radar de Tendências nº2 publicado em versão adaptada na revista Ideias & Negócios

Entrevista exclusiva com Paul Strassmann | Os 10 assassinos da produtividade
Os 10 erros clássicos | Factos & Números do Paradoxo nos Estados Unidos
O Livro mais recente: Information Productivity | O «site» de Paul Strassmann
Entrevista de Abril 2001 aquando do anúncio da vinda a Lisboa, antecipação dos temas da conferência

Depois da euforia em torno da Web, da Internet, do «B2B» (comércio electrónico entre empresas), da implementação de sistenas de ERP, CRM, e de tantos outros acrónimos que encheram os bolsos das consultoras e dos fornecedores, os empresários cairam em si. Qual foi o efeito deste sorvedouro de investimentos na «performance» económica das firmas? Qual foi o impacto no crescimento da produtividade? O tema já tinha sido abordado no final dos anos 80 e princípio dos 90 e havia sido baptizado de «paradoxo da produtividade», inspirado numa célebre frase do Prémio Nobel da Economia (1987) Robert M. Solow que rezava assim: «Vemos computadores por todo o lado, mas não o seu efeito nas estatísticas».

Robert M. Solow   «Vemos computadores por todo o lado, mas não o seu efeito nas estatísticas»

Robert M. Solow, nascido em 1924, Prémio Nobel de 1987

O assunto voltou à superfície, agora, em virtude de continuarem a não ser empiricamente visíveis impactos significativos na produtividade de mais uma década de investimentos ciclópicos em tecnologias de informação, quer a nível «macro» como em estudos de casos. Inclusive no aniversário de Solow este ano uma colectânea foi editada por Peter Diamond, intitulada Growth, Productivity, Employment - Essays to celebrate Bob Solow's Birthday (Fevereiro 2000).

A pressão pricológica com o aumento da produtividade voltou a entrar no «top» das preocupações dos decisores, inclusive em Portugal, segundo os resultados do mais recente estudo da PriceWaterhouseCoopers sobre a utilização das tecnologias de informação em 1999 e cujo relatório final será divulgado até final de 2000. Quase 2/3 colocaram este indicador teimoso à cabeça das suas enchaquecas de gestão.

A teimosia da (im)produtividade

Um americano que foi, curiosamente, responsável de tecnologias de informação no Departamento de Defesa dos Estados Unidos e que dá aulas no Departamento de Engenharia de Sistemas da Academia Militar Norte-Americana de West Point, não queria acreditar quando descobriu nos estudos de campo que o aumento da produtividade na última década no seu país não derivou sobretudo dos enormes investimentos em tecnologias de informação... mas, muito prosaicamente, das taxas de juro favoráveis e do abaixamento do preço das «commodities» que as empresas usaram como «inputs».

Liminarmente: não se verificou qualquer correlação positiva entre os custos em informação e o crescimento da produtividade ou da lucratividade.

Tudo isto, imagine-se, num país em que 55% da força de trabalho está empregada em funções que lidam com a informação e em que esses segmentos de empregados detém 64% da folha de salários anual.

Mais admirado ficou Paul Strassmann - o homem em questão - quando constatou que 42% das empresas industriais estudadas produziram valor acrescentado negativo - sim, leu bem, NEGATIVO -, ou seja, apesar dos gastos em tecnologias de informação, aquelas firmas foram claramente improdutivas.

A improdutividade é tanto mais escandalosa quanto se sabe que, nesta última década, os custos em tecnologias de informação para produzir e entregar uma unidade adicional diminuiram e em que são cada vez menos os gastos em informação para gerar lucros.

Que se passou, então?

Os custos de gestão da informação por trabalhador cresceram mais, muito mais, do que os próprios salários. Os custos das tecnologias de informação propriamente ditas são, apenas, 11,5% dos custos globais de informação.

Imagine, ainda, que em cada dólar investido em tecnologias de informação, 30% não adiciona valor à empresa, segundo um estudo de Dale Foster, reitor adjunto de Tecnologias de Informação da Faculty of Business Administration da Memorial University of Newfoundland, no Canadá.

Paul Strassmann já escreveu dois livros recentes sobre este problema americano (que, naturalmente, não é exclusivo dos States). Ambos, sugestivamente intitulados.

Em The Squandered Computer («O Computador Esbanjador») mostrou em 1997 que uma larga percentagem do dinheiro gasto na informatização das empresas foi pura e simplesmente esbanjado. «A tragédia é que os gestores não sabem distinguir, na maioria dos casos, o que é desperdício e o que é útil», diz-nos Strassmann. E provocatoriamente acrescenta: «As TI, regra geral, criam patalogias e aumentam os custos». Capa do livro Information Productivity

Agora, em Information Productivity: Assessing the Information Management Costs of US Industrial Corporations, um livro acabado de lançar (e cujo índice pode consultar aqui), o académico demonstrou, com números gritantes, a extensão desse «esbanjamento». Este livro lista os indicadores de produtividade de1586 empresas e divulga uma galeria de honra das 400 mais produtivas.

LISTA DAS PRINCIPAIS OBRAS DE PAUL A. STRASSMANN
 Information Payoff (1985) - compra do livro
 The Business Value of Computers (1990) - compra do livro 
 The Squandered Computer (1997) - compra do livro
 Information Productivity (2000) - compra do livro

Mas, então, onde está o «criminoso» responsável por essa teimosa improdutividade?

Na gestão do problema.

O criminoso escondido

Mas falar em abstracto da incompetência da gestão não chega – é disparar para um alvo gordissimo.

Strassmann e outros estudiosos do problema (incluindo alguns investigadores portugueses - ver Nota) têm-se dado ao trabalho de listar os «assassinos» silenciosos da produtividade e os principais erros derivados.

Mais do que gastar parágrafos a descrevê-los, o leitor poderá dar uma olhada pelas listas que publicamos nos quadros e fazer o seu auto-diagnóstico.

À cabeça vem, naturalmente, a mãe de todos os erros, segundo estes estudiosos. Os decisores não colocam em pé de igualdade a tomada de decisão em investimentos com tecnologias de informação em relação a outras decisões de investimento que têm de tomar noutros campos.

«Os investimentos em tecnologias de informação deveriam submeter-se aos mesmos critérios de justificação que os demais investimentos - mas não», diz-nos Strassmann.

Porque razão isso sucede?

Pora razões ideológicas!

Não, não estamos a falar de política. Mas de ideias feitas que dominam a cabeça dos decisores, e que os investigadores do problema catalogam como «doenças» da ingenuidade, ou da fé, ou da obrigação, ou da cegueira pura e simples.

Em suma, muitas das decisões de investimento em tecnologias são tomadas por «instinto» («vai dar certo»), «seguidismo» («se os outros fizeram, eu também tenho de fazer») ou por sumissão aos «lobbies» internos (a função X, o departamento Y, o grupo de profissionais Z). A convicção é que o retorno está assegurado, e que é perder tempo avaliar a racionalidade económica do investimento.

Não, não se comporte assim. Seja «vanguardista» na visão, mas tenha os pés bem assentes no chão – seja «conservador» na análise. Os recursos são escassos e é o futuro da viabilidade da sua empresa que está em causa.

O invísivel e o intangível

Um dos erros habituais é ao olhar os custos esquecer-se dos «invísiveis», dos que vêm depois, porque estão associados ao investimento inicial. Muitos investigadores falam de 25% mais sobre o investimento original.

Por isso, recomenda Strassmann, «analise mesmo TODOS os custos», se não está a subestimar os custos. Ou seja, por exemplo, para além dos com o «hardware» e «software» (o que, em geral, lhe apresentam), há os relacionados com a programação e o desenvolvimento, com a manutenção, com a consultadoria, com o recrutamento ou formação, com o tempo ocupado pela gestão na mudança, com a redução temporária da eficiência derivada do arranque de novos sistemas e possíveis resistências, com os seguros, com os atrasos dos fornecedores.

Num estudo de Dale Foster, a que já nos referimos, mostra-se que em cada dólar de investimento em TI, 25% vai para o desenvolvimento do «software», outros 25% para a manutenção, 14% para as redes, 10% para os centros de dados, 9% para a aquisição do «software», 8% para a migração da plataforma, 7% para a aquisição do «hardware» e os 3% finais para outros custos diversos.

Por outro lado, é difícil avaliar certo tipo de resultados esperados. Sobretudo os que se denominam de benefícios intangíveis. São intangíveis - mas bem reais. E se não são tomados em linha de conta conduzem a uma avaliação por defeito da produtividade. Entre os intangíveis mais célebres: a melhoria da resposta ao cliente, a melhor coordenação com os fornecedores, a inovação em produtos e processos, a flexibilidade, a capacidade de resposta ao mercado, as alterações na qualidade, e a própria valorização da empresa no mercado.

 Leia a ENTREVISTA EXCLUSIVA com Paul A. Strassmann 

Nota:
Há já investigação em Portugal sobre o assunto. São de referir os trabalhos de António Guerreiro e António Serrano, da Universidade de Évora, de Pedro Marques sobre 17 grandes empresas de texteis e vestuário do Vale do Ave, e de Ana Sofia Costa, da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, sobre 10 entidades (5 bancos, 2 holdings e 3 empresas industriais). Um artigo teórico pioneiro de Guerreiro e Serrano é publicado na edição nº3/2000 da Revista Portuguesa de Gestão («O paradoxo da produtividade revisitado»). O próprio Strassmann analisou dados no grupo PT, em dez bancos (BTA, Mello, Banif, BPSM, BPI, BCP, CPP, BES, BPA, BES-Investimentos) e em 3 seguradoras (Tranquilidade, Bonança e Mundial Confiança).

OS DEZ «ASSASSINOS» SILENCIOSOS DA PRODUTIVIDADE
  • Decisões de investimento em tecnologias de informação mal tomadas, derivadas de deficiente ou nula avaliação económica
  • Visão «deslumbrada» das tecnologias de informação, crendo que conduzem automaticamente a ganhos competitivos
  • Falta de Recursos Humanos qualificados para tirar proveito dos investimentos
  • Desfasamento temporal no processo de aprendizagem e adaptação por parte dos Recursos Humanos à nova tecnologia
  • Resistência ideológica à mudança
  • Incapacidade de proceder à «reengenharia» dos processos de gestão e de produção e aos investimentos adicionais de índole organizacional
  • Frustração dos gestores nos resultados obtidos com a gestão da informação e com os sistemas de controlo de gestão
  • Desapontamento dos gestores com os resultados efectivos dos sistemas de CRM (gestão da relação com o cliente) e de ERP (planeamento de recursos)
  • Frustração com o impacto real na redução ou eliminação de custos por parte dos investimentos em tecnologias de informação
  • Funcionamento deficiente dos fornecedores de tecnologias de informação com impacto na produtividade da empresa cliente
  • OS DEZ ERROS CLÁSSICOS
  • Investir em tecnologias de informação «inocentemente» (Pensamento: «com tecnologia, o retorno está sempre garantido»)
  • Investir em TIs por «intuição» e «fé» (Pensamento: «isto vai dar»)
  • Investir em TIs por «obrigação» (Pensamento: «não posso ficar atrás»; «tenho de acompanhar o último grito da evolução da tecnologia»)
  • Investir no momento errado (demasiado cedo ou demasiado tarde)
  • Investir sem olhar aos «custos invisíveis» (não tomar em linha de conta os investimentos complementares, não avaliar todos os custos)
  • Investir isoladamente numa dada função ou sector da empresa, a pedido (por pressão) do «lobby» organizacional ou profissional interno respectivo, sem interligar os sistemas e sem perspectiva de abarcar toda a cadeia de valor em que se insere (o que implica o «exterior» da empresa)
  • Investir em TIs só porque reduzem custos associados a processos administrativos
  • Investir no «upgrading» sem apostar na formação dos recursos humanos
  • Deixar na mão de fornecedores de soluções informáticas o ónus da prova da viabilidade económica do investimento
  • Entregar-se de olhos fechados na mão de consultores com «ligações» privilegiadas a determinados fornecedores de soluções
  • FACTOS & NÚMEROS DA TERCEIRA VAGA AMERICANA
    (O que Paul Strassmann descobriu)
  • O poder computacional aumentou mais de 100 vezes desde 1970 mas não houve correspondência no aumento da produtividade
  • 42% das empresas industriais produziram valor acrescentado NEGATIVO, ou seja foram claramente improdutivas, apesar dos gastos em tecnologias de informação
  • As empresas mais produtivas são pequenas e gastaram menos em informação
  • O investimento em tecnologias de informação e a «performance» empresarial não apresentaram qualquer correlação positiva na última década
  • O aumento da produtividade americana na última década foi devido sobretudo a taxas de juro favoráveis a à diminuição do preço das «commodities» que entram no processo produtivo
  • Os custos de gestão da informação por trabalhador cresceram mais do que os salários
  • Os custos com as tecnologias de informação são apenas 11,5% dos custos globais em informação, ou seja o grosso do sorvedouro vai para a gestão da informação e custos «invisíveis» associados
  • 43% dos custos com a informação estão concentrados em apenas 108 empresas
  • 30% em cada dólar de investimento em TIs não adiciona valor à empresa
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