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Não esbanje em tecnologia

o conselho de Paul Strassmann

por Jorge Nascimento Rodrigues (Abril 2001)

O que ele diz pode não agradar aos fornecedores de tecnologias
de informação. Curiosamente, é nas pequenas firmas com estratégia sólida
e que até gastam menos em TI's que se encontra maior crescimento
da produtividade. Paul Strassmann (paul@strassmann.com) explica os porquês deste paradoxo em vésperas de estar em Lisboa (em Maio 2001)

Entrevista anterior de Paul Strassmann sobre o paradoxo da produtividade
(www.janelanaweb.com/digitais/strassmann.html)
Apresentação de Paul Strassmann e do seu trabalho
(www.janelanaweb.com/digitais/radar2.html)
Entrevista à revista IMP em Setembro 2000
(www.cisp.org/imp/september_2000/09_00strassmann.htm)
Artigos de Paul na revista Knowledge Management Magazine
(http://www.strassmann.com/pubs/km/)

Paul Strassmann é um especialista em produtividade seguidor da estupefação do Prémio Nobel Robert Solow (ver em www.janelanaweb.com/digitais/radar2.html) quando este descobriu o «paradoxo da produtividade». «Vemos computadores por todo o lado, mas não o seu efeito nas estatísticas», foi a frase bombástica de Solow que continua a ecoar na investigação económica. Numa obra que publicou em 1997, Strassmann demonstrou que uma larga percentagem do dinheiro gasto em tecnologias de informação nas empresas fora pura e simplesmente esbanjado, o que originaria o título sugestivo do livro: O Computador Esbanjador.

É doloroso constatar que em cada dólar investido em TI's, 1/3 não adiciona qualquer valor. Para «curar» esta doença, este académico do Departamento de Engenharia de Sistemas da Academia Militar norte-americana de West Point e ex-responsável pelas TI's no Departamento de Defesa, reclama que «os investimentos em TI's deverão submeter-se aos mesmo critérios de justificação económica que os demais investimentos» e que os decisores têm de evitar 10 erros.

Strassmann vem a Lisboa este mês (Maio 2001) a uma conferência organizada por Amândio Vaz Velho para repetir a sua conclusão e falar de alguma avaliação que fez em empresas portuguesas. Ele está a preparar um novo livro cujo tema será a Medição e Avaliação do Capital de Conhecimento das empresas globais.


Qual é a principal mensagem que vai deixar no seminário em que vai participar em Lisboa?

P.S. - Que a estratégia de negócio e os números económicos da firma devem ter primazia sobre as decisões técnicas quanto ao investimento em tecnologias de informação (TI's). Só empresas bem organizadas do ponto de vista estratégico e económico conseguirão tirar proveito das TI's.

Mas depois de cinco anos de economia Net, de massificação do uso do correio electrónico nas firmas, da própria criação de intranets e extranets empresariais mais recentemente, continua a não se observar nenhum impacto relevante na produtividade?

P.S. - Tenho avaliado a produtividade da informação, analisando a «performance» das empresas e não os dados macroeconómicos a partir das estatísticas oficiais. Até à data, os factos no terreno empresarial suportam a minha posição - só as empresas que têm um posicionamento estratégico superior conseguem beneficiar realmente com os investimentos em TI's. Pelo contrário, empresas com uma estrutura económica débil deterioram-se a olhos vistos, soterradas por gastos insuportáveis em TI's!

Um estudo seu parece indicar inclusive que é nas firmas pequenas e que gastam menos em TI's que encontramos, frequentemente, maior crescimento da produtividade?

P.S. - Efectivamente assim sucede.

O que é que o impressionou mais da observação da realidade no seu país ao fim destes anos?

P.S. - Estas constatações: o poder computacional nos EUA aumentou mais de 100 vezes desde 1970, mas não houve correspondência no aumento da produtividade; o investimento em TI's e a «performance» empresarial não apresentam qualquer correlação positiva na última década; os custos de gestão da informação por trabalhador cresceram mais do que os salários; 30% em cada dólar de investimento gasto em TI's não adiciona valor à empresa.

O que é que influência, então, decisivamente a lucratividade das empresas?

P.S. - Os estudos feitos (ver em http://www.strassmann.com/pubs/km/2001-4.php) colocam o business intelligence em primeiro lugar. Repare neste número: 65% do impacto sobre a lucratividade das empresas advém do conhecimento do mercado, da situação competitiva e do posicionamento estratégico. Essa é a fonte real de diferenciação na «performance» das empresas. A tarefa principal dos gestores e dos empresários é a gestão do conhecimento, ou seja, a procura e interpretação da intelligence relevante nestas áreas da estratégia. Os gastos com a eficácia operacional - incluindo os investimentos em processos de negócio, nos produtos, na formação e na alavancagem com as tecnologias de informação - não impactam mais de 15%. Inclusive 10% da lucratividade vem de acontecimentos fortuitos e da pura sorte que revelam oportunidades inesperadas.

O principal impacto sobre a lucratividade advém do conhecimento do mercado, da situação competitiva e do posicionamento estratégico

Quer concretizar essa ideia de que a intelligence é primordial?

P.S. - Veja o seguinte caso muito falado ultimamente - nem os sistemas de partilha de conhecimento, nem a melhoria do fluxo de trabalho conseguiram impedir a Xerox de ficar à beira da bancarrota. É preciso, por isso, ter cuidado em associar estreitamente os investimentos em TI's com a criação de capital organizacional. As TI's, por si só, não geram capital organizacional - só boas estratégias bem implementadas o conseguem.

Então, como é que se pode investir «correctamente» em tecnologias? Que conselhos daria?

P.S. - Creio que a melhor resposta é a analogia com a medicina. Se você não se sente bem e se limita a ir à farmácia comprar alguns medicamentos mais avançados, é pura roleta russa: tanto o podem curar, como deixar pior, ou mesmo matar. É muito mais seguro, e mais eficaz, ir primeiro a um bom médico para um diagnóstico, não? Se calhar, a cura até é tão simples, e tão pouco sofisticada, como, por exemplo, fazer dieta!

Mas qual é o principal erro a evitar?

P.S. - É a tendência para decisões de compra que provavelmente não vão conduzir a nenhuma melhoria da lucratividade. Essa análise prévia é muitas vezes descurada. Muitas das decisões são tomadas por «instinto» («tecnologia vai dar certo»), seguidismo («se os outros fizeram, eu também tenho de fazer»), ou por submissão aos «lobbies» internos das empresas ligados às TI's, por exemplo. A convicção generalizada é de que com tecnologia o retorno está sempre assegurado e que é perder tempo avaliar a racionalidade económica do investimento em TI's. Completamente errado!

Essa gestão do conhecimento de que fala é realmente útil, ou são apenas palavras de moda para convencer accionistas e analistas mais sensíveis às «filosofias» de gestão?

P.S. - A gestão do conhecimento é fundamental para gerir o que eu designo de «capital de saber». É importante para a tomada de decisões de investimento em TI's, que devem ser feitas com tanto cuidado quanto aquele que se coloca nas decisões de investimento em capital financeiro. A gestão do conhecimento tornou-se uma disciplina séria respeitada - se se avaliar e medir efectivamente o tal capital de conhecimento. É claro que sem essa quantificação objectiva, a gestão do conhecimento não passa de uma especulação psico-sociológica.

Sem uma quantificação objectiva, a gestão do conhecimento não passa de uma especulação psico-sociológica

No auge da «bolha» da Nova Economia e das valorizações extravagantes no NASDAQ norte-americano, o professor sempre foi um céptico e discordou abertamente dos métodos de avaliação do valor das empresas cotadas, sobretudo as propagandeadas pelos analistas. Porquê essa desconfiança?

P.S. - As «profecias» sobre o valor do capital do conhecimento foram alimentadas pelas valorizações estratosféricas das start-ups tecnológicas no mercado de capitais. Usou-se um artefacto etiquetado convenientemente de «capital intelectual» e criou-se um famoso método de avaliação do «potêncial futuro de ganhos». É claro que, na altura, os analistas inflaccionaram (ver em http://www.strassmann.com/pubs/km/2001-3.php) as avaliações. Seis meses depois já estavam a emitir opiniões diametralmente opostas. O meu método de avaliação do capital de conhecimento, pelo contrário, nunca se baseou em tais expectativas criadas pelos analistas.

Mas depois do «crash» do NASDAQ e do dilúvio sobre as valorizações das «dot-com» e de outras empresas do que Toffler alcunhou de Terceira Vaga, há ainda lugar para o discurso do «valor intangível»? Isso não entrou em descrédito?

P.S. - Há ainda lugar para o valor intangível (sem aspas). Esse valor existe, mas só se for gerado através de uma avaliação independente verificável e reprodutível do que eu designo por capital de conhecimento.

A MARCA REGISTADA DO PROFESSOR
Desde 1988 que Paul Strassmann formulou um conjunto de indicadores para a avaliação do capital de conhecimento da empresa. Através da Strassmann Inc. (www.strassmann.com) registou como marca a formulação do capital de conhecimento. Os indicadores clássicos da produtividade - como o retorno sobre os activos ou o retorno sobre o investimento - baseiam-se nos lucros contabilísticos gerados pelo capital financeiro e ignoram os «intangíveis» associados com a informação e o conhecimento, com as relações com clientes e fornecedores, o saber, a gestão e a rotação do pessoal.
Strassmann definiu dois indicadores básicos - o lucro económico e o capital de conhecimento.
O lucro económico obtem-se diminuindo ao lucro contabilístico o capital financeiro, multiplicado pelo custo do capital. O capital do conhecimento obtem-se dividindo o lucro económico (anteriormente calculado) pelo custo do capital. Strassmann já calculou este último indicador para cerca de 20 mil empresas cotadas.
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